A
ilha nasce da tempestade. A “ilha de areia” empilha-se e arruma-se em sopros de
ventos e braçadas de mar. Na tempestade, e da tempestade, vão sendo construídos
pequenos, maiores e ainda maiores, castelos de areia seca, húmida, molhada.
Uma
ilha é também o que resta de uma tempestade. Uma ilha é também o que desaparece
numa tempestade.
Qual
foi a maior tempestade? Qual a maior preia-mar? Qual a onda mais alta?
Os
pescadores contam as estórias: os barcos de “boca aberta”, rasgam ondas e
balançam minúsculos nesse gigante negrume. A “boca aberta” é engolida pela boca
da onda, da maior onda. As estórias-imagens, são as narrativas daquela
existência presente. As suas vozes cruzam-se e contam essa onda dessa maior
tempestade, e o vento continua a soprar assobiando em gritos agudos das
mulheres na areia da ilha, as suas palavras.
A
areia continua a acumular-se, aumentando a ilha. O seu desenho, o seu contorno
está desenhado, apagado e redesenhado no chão de areia, que as ondas, as marés
engolem e vomitam.
As
gaivotas vão pousando, imensas na sua confusão de asas e guinchos, na areia, onde
imóveis, anunciam miséria: “Está mau, está mau e está feio”. Quando pousam
assim, imensas, há fome.
As
mulheres trazem nos ventres xalavares, que põem na areia. E esperam. Os
pequenos barcos lançam redes e alcatruzes. E esperam. A areia revolta pelo
vento continua a sua presença de chegada e de partida. As ondas engolem-na e
vomitam-na. As gaivotas esperam junto das mulheres no abrigo da pequena enseada
o regresso dos barcos de “boca aberta”.
Ilha
da Culatra, 16 de Março de 2014
Rosa
Vieira Guedes
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