Rua Araújo - 27 de Junho de 1975

"O nosso amigo Joaquim, jornalista no "Diário de Notícias", foi buscar-me a casa às 2 da manhã. Vesti-me a correr porque a minha mãe me pediu e meio a tropeçar entre as malas e os caixotes de madeira, fechados no corredor, lá fui. Entrámos no carro e o Joaquim disse-me: "vamos buscar o teu pai!" Àquela hora? Nem tinha dado conta que ele não estava em casa. Afinal, no outro dia, quer dizer às 7 da manhã íamos apanhar o avião para a metrópole. Vinhamos para Lisboa. Que cidade deve ser...a capital....
Avançávamos por avenidas iluminadas com Jacarandás enormes nos passeios...notei que a iluminação não era tão forte como me lembrava dela no ano anterior, mas ainda assim, estavam luminosos, e eu, cheia de sono e sem perceber nada. O Joaquim acelerava. Disse-me: "não tenhas medo vamos para uma rua um bocadinho estranha mas não tenhas medo." Porque havia eu de ter medo? Sempre conheci o Joaquim, sempre foi amigo lá de casa juntamente com os seus pais, costumávamos ir a casa uns dos outros...e ia buscar o meu pai...
Parou o carro numa rua com muitos bares iluminados, pessoas às portas e ouvia-se música. "Olha," disse-me, "esta é a Rua Araújo. A rua dos bares e dos cabarets." Que raio de nome para uma rua tão animada, pensei!
Entrámos num bar. O Joaquim segurou-me a mão. Tive que habituar o meu olhar à escuridão. Só um semi círculo ao fundo estava iluminado. No centro da luz, uma mulher alta loira e muito bonita, em bikini de lantejoulas dançava. O Joaquim puxou-me em direcção ao bar onde homens sentados em bancos altos bebiam e olhavam o foco de luz.
O meu pai estava lá sentado. Viu-me e disse-me:"Olha a minha menina!" Abraçou-me e pediu uma coca cola para mim."Bebe e depois vamos para casa que já é tarde. O Joaquim leva-nos"
O meu pai cheirava a alcóol e a tabaco. Fomos de volta para casa quando acabei de beber a coca cola. Quando chegámos, a minha mãe estava a chorar. Vi a minha irmã a fchar-se no quarto dela. O meu pai perguntou-me:"Onde está o gato? Temos que o deixar ao vizinho, não o podemos levar". Fui buscar o gato e o meu pai levou-o ao vizinho.
O Joaquim levou-nos ao aeroporto. Nunca mais o vi. O meu pai dormiu até chegarmos à metropole.
E, afinal, Lisboa não era como eu tinha sonhado"

Sem comentários:

Enviar um comentário