6 de Março de 1974

"Querida Luísa Espero que esta minha carta te vá encontrar de saúde, assim como à restante família. Eu estou bem, apesar do clima húmido e quente, na região de Pemba. Os dias têm passado...e ainda não tive nenhum ataque de paludismo. A dose de quinino e a água tónica que ainda vai havendo, parecem resolver o problema. De resto, vou jogando às cartas e cumprindo o melhor que posso, a defesa da nossa querida Pátria. Se tudo correr bem, talvez consiga passar uns dias, em Novembro, na metrópole. Talvez consiga finalmente apertar-te de novo nos meus braços. Ontem, estivemos a observar o vale onde está a aldeia dos turras. Têm muitas mulheres e crianças com eles. Corre um enorme rio ao lado da aldeia. Vemos as mulheres a lavar as capulanas e as crianças mais pequenas, amarradas às costas das mães, enquanto as maiorzinhas correm, brincam e chapinham na água do rio. Algumas mulheres, perto das palhotas pisam mandioca em grandes pilões de madeira. Há fogueiras acesas todo o dia. E toda a noite. Dançam e cantam à noite. Todos eles. Até as crianças e os velhos. Não vimos nada de especial. Uma aldeia de cubatas com gente a viver o dia a dia. O vale tem terra castanha escura. Fértil. Plantam e colhem. Milho, mandioca... Hoje vão lançar Napalm. Deste que te ama"

Sem comentários:

Enviar um comentário